Que infância você está oferecendo ao seu filho?
- mvelhote
- 30 de jul. de 2014
- 7 min de leitura
Cidade grande, apartamentos pequenos, pais que trabalham. Como conciliar nosso estilo de vida com as experiências e brincadeiras fundamentais para o desenvolvimento de crianças seguras e felizes?
O que precisa realmente estar incluído na rotina de uma criança pequena?"
Ao longo dos anos aconteceram mudanças nas cidades e na sociedade causando um impacto na vida das crianças, que estão mais solitárias e protegidas, e tendo menos experiências físicas.
Estas mudanças estão ligadas aos diversos fatores econômicos, sociais, culturais e tecnológicos e trazem com elas novas dificuldades. São os deslocamentos na cidade cada vez mais congestionada que contribui para que as crianças fiquem ainda mais em suas casas; é a falta de tempo para os pais estarem com seus filhos; a falta de espaços para as crianças brincarem; a falta de segurança, o maior tempo gasto com a TV e os eletrônicos, fazendo com que as crianças tenham cada vez menos tempo para viver experiências e brincadeiras fundamentais para o desenvolvimento de crianças seguras e felizes.
Novos desafios também surgiram com estas mudanças. O novo século está favorecendo cada vez mais uma força de trabalho que consista de indivíduos intelectualmente flexíveis, hábeis na resolução de problemas, emocionalmente resilientes e bem capacitados para interagir com os outros em ambientes sociais em constante mutação e em economias altamente competitivas.
Para enfrentar este desafio prioritário precisamos inicialmente entender e avaliar os processos de desenvolvimento que capacitam cada criança a atingir seu pleno potencial – neurobiológica, física, psicológica e emocionalmente. A experiência inicial da criança tem efeitos duradouros e consolidadores no desenvolvimento de seu cérebro e de seus comportamentos. As diferentes experiências afetam a estrutura (isto é, as conexões) do cérebro, a expressão dos genes e a bioquímica e fisiologia do corpo humano – todos os quais atuam como mediadores de nossos comportamentos cognitivos, emocionais e sociais. Ou seja, crianças precisam ser ativas, fazer exercício desde cedo.
Quando a maioria dos adultos pensa sobre o exercício, eles imaginam malhar na academia, caminhar em uma esteira ou correr. Mas para as crianças, o exercício significa jogar e ser fisicamente ativo. As crianças fazem exercício quando eles têm aula de educação física na escola, durante o recreio, na aula de dança ou na de futebol, enquanto andam, andam de bicicleta, colcam ou tiram suas roupas, amarram o cadarço, ou quando brincam de pique.
São muitos e decantados os benefícios da prática da atividade física pela criança pequena, vejamos. Crianças que são ativas:
Têm músculos e ossos mais fortes;
São menos propensas a se tornar obesa;
Diminuem o risco de desenvolver diabetes tipo 2;
Possivelmente reduzem a pressão arterial e os níveis de colesterol no sangue;
Têm uma melhor perspectiva de vida;
Além de apreciar os benefícios de saúde do exercício físico regular, as crianças que estão em boa forma física tem um sono melhor e são mais capazes de lidar com os desafios físicos e emocionais - desde de correr para pegar um ônibus até estudar para um teste.
São mesmo muitos os beneficios, mas algum deles não são tão conhecidos assim. As experiências vividas nos primeiros anos de vida:
Determinam a competência e o comportamento básicos dos indivíduos, no que se refere a como eles enfrentam e contribuem para a sociedade em que vivem e trabalham;
Diferenciam as funções sensoriais das células nervosas do cérebro (visão, audição, tato etc.);
Influenciam o desenvolvimento das vias neurais, desde os nervos sensoriais até outras partes do cérebro envolvidas nas emoções, na reação ao estresse, no movimento físico, na linguagem, na cognição e nos caminhos biológicos que afetam a saúde e o bem-estar. (Banco Mundial,2007).
Os cientistas atualmente destacam duas descobertas fundamentais com relação ao desenvolvimento humano: 1. As respostas de uma pessoa a estímulos internos e externos dependem dos importantes circuitos e processos formados no cérebro. As pesquisas mostram que bilhões de neurônios no cérebro precisam ser estimulados para criar caminhos inteligentes, que irão influenciar a competência e a capacidade de enfrentamento (isto é, habilidades de aprendizagem e comportamentais) de uma pessoa, assim como os processos biocomportamentais que afetam sua saúde física e mental.
Em suma, as experiências do início da vida ativam a expressão do gene – e resultam na formação de circuitos e processos importantes.
2. As experiências positivas e negativas da primeira infância influenciam a formação destes processos e redes de circuitos.
Aspectos simples e rotineiros de um ambiente físico, tais como variações de ruído, luz e temperatura, estimulam a atividade cerebral (não são necessários música de Mozart ou móbiles atrativos).
Aspectos simples e rotineiros de um ambiente social e psicológico, como tocar, acariciar, sorrir, reagir e brincar melhora o desenvolvimento cerebral dos bebês.
São atitudes simples, mas que podem fazer muita diferença, por isso sempre que puder brinque com seu filho. Seguem aqui pequenas dicas:
Uma regra que funciona sempre: hora de brincar com as crianças, é hora de brincar com as crianças. Dedique-se a elas com exclusividade.
Os brinquedos mais caros, eletrônicos, cheios de sons ou movimentos não são necessariamente os que melhor estimulam as crianças.
Para estimular o desenvolvimento do tato, da visão, da audição, da inteligência, o melhor é optar por brinquedos que permitam à criança ser um agente ativo da brincadeira e não apenas um expectador.
Nesse aspecto, os jogos de montar, os brinquedos de madeira, as fantasias são opções mais interessantes.
Contato com o chão: principalmente no primeiro ano de vida, os pais têm de deixar a criança no chão para que ela possa construir seu esquema corporal e desenvolver o campo psicomotor. É importante que ela tenha acesso a brinquedos com os quais possa observar a reação do objeto depois da ação dela, como uma bola.
Crianças precisam correr.
Quanto mais seu filho (a) brincar com vários tipos de brinquedos, mais habilidades ele (a) vai desenvolver. É importante que as crianças brinquem com brinquedos ditos “de meninos e de meninas”. Quando a criança troca de papel, treina como lidar com relações diferentes e emoções, tanto dela mesma como das outras pessoas. É um treino de tolerância e de lidar com a diversidade.
As crianças de menos de dois anos podem ter atividade dirigida duas vezes por semana.
Elas podem fazer caminhadas curtas de um ou dois quarteirões, respeite o ritmo delas, vá aumentando aos poucos o percurso, deixando-as ir descobrindo seus limites.
Deixe-as brincarem livremente com bola.
A partir dos dois anos elas já podem experimentar as bicicletas sem pedal, triciclos e patinetes.
Crianças precisam de brincadeira livre por no mínimo 60 minutos por dia, sem a direção constante de um adulto. (Isto não que exclui a supervisão de um adulto para garantir que os brinquedos não podem ser engolidos, por exemplo).
Nossos alunos mais protegidos podem ficar mais atrasados.
Crianças pequenas constroem através das brincadeiras suas primeiras atitudes autônomas.
Aos poucos elas vão conquistando outras como, por exemplo, comer sozinha (o). Parece pouco, mas a autonomia para comer sozinha (o) é fundamental. Assim como arrumar os brinquedos depois de usá-los, e tentar se despir e se vestir sozinha (o).
Em casa, o que seu filho pode fazer?
Bom, é inegável que apesar de todos os esforços que os pais possam fazer para que seus filhos (as) tenham oportunidade de serem ativas em lugares abertos como pracinhas e playgrounds a maior parte do tempo elas estão em casa.
A chegada de uma criança altera a decoração de uma casa. É preciso que a casa esteja preparada, que exista um espaço pelo menos onde a criança possa brincar, andar e explorar, sem o risco de quebrar algo de valor.
TV pode ser seu aliado, ou não.
A TV tem sido objeto de vários estudos e discussões sobre sua utilidade e efeitos sobre as crianças pequenas. Recentemente a A Associação Americana de Pediatria divulgou um relatório em que sugere que crianças de até dois anos fiquem longe da televisão.
De acordo com a associação, a TV distrai as crianças e substitui brincadeiras importantes para a compreensão das relações sociais, que acontece nessa fase. O desenvolvimento da coordenação motora e da fala também estaria prejudicado pelo uso intensivo de TV, além dos DVDs portáteis no carro, smartphones e tablets. Quanto menos um adulto conversa com a criança, pior é o desenvolvimento da sua fala. "Quando a TV está ligada, os pais conversam menos", diz Ari Brown, da Associação Americana de Pediatria. De acordo com ele os prejuízos causados pela telinha aos menores de dois anos acontecem mesmo com os programas educativos.
Slow Parenting Movement
Em reação a estas mudanças na nossa sociedade que aos poucos foram alterando os hábitos das famílias e principalmente das crianças, surgiram muitos movimentos que pregam uma vida mais calma e a volta de conceitos simples. Dentre eles encontra-se o Slow Parenting Movement, amplamente divulgado no EUA, e é interessante conhecer alguns de seus princípios:
Desligue a tecnologia por pelo menos uma hora por dia (mais é preferível). 2. Ser o pai – pare de tentar ser amigo de seu filho. 3. Cultive a capacidade de observar seu filho e outras crianças, e estar atento a essas observações. Observe as diferenças de desenvolvimento em várias idades. 4. Casas são as primeiras escolas, os pais são os primeiros professores. Compreender e valorizar a importância do seu papel. 5. O trabalho de um filho é para brincar. 6. Você dá a vida, mas não são a vida do seu filho. 7. Não há problema em dizer não. Estabeleça limites e pare o giro incessante. 8. Menos é mais – a criatividade é muitas vezes nascem de tédio. 9. Entender, respeitar e honrar a comunidade – tanto dentro como fora de casa 10. Aprenda a cultivar os espaços tranquilos durante o dia e fazer o tempo para esvaziar a mente – abrindo-se a gratidão e admiração.
O fato é que todas estas mudanças exigem um momento de reflexão por parte dos pais e da escola, para buscar o que é realmente importante na vida do seu filho. Crianças precisam brincar para serem mais felizes, seguras e inteligentes.
SITES SOBRE O ASSUNTO
Slow Parenting Movement
http://slowparentingmovement.wordpress.com/
Professor Mauro Velhote
maurovelhote@osbatutinhas.com.br
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